Ciência com Consciência


Dieta "Low Carb High Fat" e Performance de Atletas de Elite da Marcha Atlética



Os atletas de marcha atlética nos surpreendem ao atingir velocidades que a maioria dos corredores amadores não consegue atingir!

Os recordes masculinos para as distâncias de 20Km e 50Km são respectivamente 1h 16min 36s (japonês Yuzuke Suzuke) e 3h 35min 29s (russo Denis Nizhegorodov).

Será que uma dieta Low Carb High Fat pode ser benéfica para atletas dessa modalidade?

Durante o exercício contínuo de longa duração, o músculo esquelético é alimentado tanto por carboidratos intra e extramusculares quanto por gordura, com uma contribuição menor dos aminoácidos. A manipulação dessas proporções de gordura e carboidratos na dieta por vários dias tem a capacidade de mudar as taxas de troca respiratória (oxigênio e gás carbônico) durante o exercício em intensidade submáxima (85% Frequência Cardíaca Máxima). Estudos que identificaram isso viram um benefício potencial para o carboidrato em virtude de uma produção energética 8% maior por litro de oxigênio consumido. Além disso, as amostras dos estudos também relataram uma maior facilidade na realização dos treinos quando em dieta rica em carboidrato ao contrário do resultado testado com a dieta rica em gordura e pobre em carboidrato (LCHF).

No início da década de 1990 houve uma promoção de dietas altas em carboidratos, particularmente em torno de sessões de exercício, para maximizar o glicogênio muscular. No entanto, orientações recentes levam em consideração a natureza altamente variável do exercício/esporte, a situação deste, caso necessite de melhores resultados, e a quantidade e horário de oferta desse carboidrato. Para maximizar a economia e eficiência do uso de carboidratos, estratégias como treinos em jejum são realizadas para tal, visando maximizar a contribuição da gordura como substrato energético para os músculos, assim como adaptar o atleta a uma dieta com baixo teor de carboidratos e alto em gordura. Embora essa dieta resulte em aumento das taxas de oxidação de gordura durante o exercício, ainda não é claro que essa mudança de utilização de substrato se traduza em melhora da performance.

O artigo desse CIÊNCIA COM CONSCIÊNCIA é um estudo que mostra que uma dieta LCHF resulta em aumento das taxas de utilização de gordura durante o exercício, mas prejudica a economia energética no exercício.

METODOLOGIA
O estudo foi realizado com 21 atletas no Instituto Australiano de Esportes entre Novembro de 2015 e Janeiro de 2016, e consistiu num programa de 3 semanas de treinamento com um bloco de teste antes do início do estudo e um logo ao final.

Esse bloco de teste consistia em:
1ª dia: teste em jejum na esteira para determinar a taxa de economia e o vo2pico
2º dia: teste de 10Km numa pista de atletismo

3º dia: teste híbrido de 25km realizado na esteira e num percurso de 5Km fora do laboratório

A intervenção nutricional envolveu três diferentes abordagens dietéticas:
Alta Disponibilidade de Carboidratos (HC): 60 a 65% carboidrato, 15 a 20% proteína e 20% gordura
Periodização de Carboidratos (PC): mesma quantidade diária de macronutrientes do HC, mas periodizando a ingestão durante o dia de acordo com treinamento
LCHF: menos que 50g diárias de carboidrato, 15 a 20% proteína e 75-80% gordura

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em 3 semanas observou-se:

  • Aumento da capacidade aeróbica máxima (3 a 7%) independente da dieta
  • HC e PC
    • melhor desempenho nos testes
  • LCHF
    • redução de concentrações de glicose em exercício e repouso
    • aumento da cetona sanguinea
    • taxas mais elevadas de oxidação de gordura
    • redução na utilização de carboidrato
    • sem melhora de performance no teste de 10km
    • aumento na percepção de esforço
    • redução na qualidade dos treinos durante as 3 semanas de treinamento
    • aumento do consumo de oxigênio para produção de energia

Em esportes como corrida, ciclismo, natação e marcha atlética, a economia energética é mais determinante para o desempenho do que o VO2max.

VO2max é a capacidade total de oxigênio que o atleta consegue captar num esforço máximo, já a economia energética é a energia necessária para correr em velocidades moderadas.

Quanto menor a energia necessária para correr a uma determinada velocidade, menor será o consumo de oxigênio naquele momento e mais eficiente será a corrida.

Nesse estudo o custo do oxigênio na marcha a uma velocidade equivalente ao ritmo de competição em eventos de 20km e 50km aumentou significativamente com a LCHF. Em contraste, os atletas HC e PC  conseguiram uma redução no custo relativo de oxigênio.

Embora se tenha um aumento do consumo máximo de oxigênio no grupo LCHF, os atletas neste tipo de dieta demandam um consumo maior de oxigênio para manter uma mesma velocidade, além de apresentarem maior percepção de esforço nesta dada velocidade.

CONCLUSÃO
Os resultados do estudo desse CIÊNCIA COM CONSCIÊNCIA mostram que, apesar de alcançar aumentos substanciais na capacidade de oxidação de gordura durante o exercício intenso, a ceto-adaptação afeta a economia energética e consequente desempenho no exercício de alta intensidade. Em contraste, treinar com uma dieta rica em carboidratos forneceu alta disponibilidade (mesmo que periodizado) em torno de sessões de treino e foi associado a melhores resultados de desempenho em alta intensidade.

PONTO DE VISTA 449
Esse estudo mostrou que em nenhuma distância houve uma melhor economia energética, mesmo na distância de 25km (dia 3 do teste). No entanto será que há melhora para provas de ultra-endurance (maior que 3 a 4 horas)?

Será que uma dieta não tão restrita de carboidrato e tão alta em gordura (30 a 40% carboidrato e 40 a 50% gordura) traz algum benefício?

Na prática observamos que alguns atletas de ultra-endurance relatam um melhor conforto/rendimento com uma dieta "meio-termo".

Uma dieta com menos de 50g de carboidrato por dia é muito restrita e a longo prazo pode comprometer a saúde pela exclusão de grupos alimentares que são fontes de carboidrato, mas que também são fontes de nutrientes importantes como as vitaminas, minerais e antioxidantes.

A base de uma boa orientação nutricional é a saúde e o equilíbrio da alimentação!

Artigo analisado pelo estagiário Igor Pereira (2º semestre/2017)

Low carbohydrate, high fat diet impairs exercise economy and negates the performance benefit from intensified training in elite race walkers - The Journal of Physiology, 2017










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