Ciência com Consciência


Os Efeitos da Cafeína, Nicotina, Álcool e Tetrahidrocanabinol na Performance



INTRODUÇÃO
Cafeína, nicotina, álcool e tetrahidrocanabinol (THC) são substâncias amplamente consumidas na sociedade atualmente. Drogas como  o tabaco, o álcool ou a cannabis representam um grave problema de saúde pública. Do lado esportivo, essas substâncias também são proibidas ou monitoradas quanto à quantidade pela Agência Mundial Antidopagem (WADA). Por isso, é importante saber como essas substâncias podem mudar a ação fisiológica e alterar o desempenho. O objetivo desta breve revisão é fornecer uma visão geral das evidências que suportam os efeitos ergogênicos ou ergolíticos desses.

CAFEÍNA
Presente no chá e no café, a principal substância farmacologicamente ativa em ambos é a cafeína. É considerada no mundo a substância farmacologicamente ativa mais consumida. A cafeína é tanto solúvel em água quanto gordura e é rapidamente metabolizada após 15-120 min e tem meia-vida de aproximadamente 5-6 horas.

A cafeína atua de diferentes formas em nosso organismo. Os principais efeitos observados são:
- Redução da fadiga
- Aumento do estado de alerta
- Aumento da queima de carboidrato e gordura
- Possível melhora da ressíntese de glicogênio e da contração muscular

Geralmente existe mais de um mecanismo que pode explicar os efeitos ergogênicos de uma substância farmacológica. Embora questionável, um potencial lado negativo é que a cafeína também possui propriedades diuréticas que pode exercer efeitos ergolíticos durante eventos de resistência, além de que em doses muito elevadas (500-600 mg ou quatro a sete xícaras por dia) pode causar inquietação, tremor e taquicardia. Atletas de resistência treinados têm efeitos bastante claros e bem documentados com a cafeína, porém seus efeitos em exercícios anaeróbicas e de alta intensidade são bem menos investigados. Além disso, sujeitos acostumados e não acostumados ao consumo parecem não sofrer diferença de efeitos quando ingerem a mesma dose, conforme alguns estudos.

O consumo via alimento ou suplemento é válido para colher os benefícios ergogênicos da cafeína.

NICOTINA
A nicotina é um alcalóide natural e um dos mais usados psicostimulantes no mundo, sendo os cigarros as fontes mais comum de nicotina. O tabaco fumado contém componentes prejudiciais e produtos químicos que afetam negativamente o sistema respiratório, provoca doenças cardiovasculares e cutâneas bem como a uma série de cânceres. Cigarros eletrônicos e adesivos transdérmicos são alternativas para obtenção da nicotina, pois não têm o efeito prejudicial do cigarro tradicional.

A nicotina tem um efeito psicoestimulante sobre o Sistema Nervoso Central (SNC). Promove o aumento da freqüência cardíaca, contratilidade muscular, vasoconstrição, fluxo sanguíneo muscular, a queima de gordura e a tolerância à dor.

Em doses mais elevadas, no entanto, a nicotina aumenta o efeito da serotonina e a atividade dos opiáceos, exercendo um efeito calmante.

Um grande número de estudos com humanos e animais descobriram melhorias induzidas pela nicotina em vários aspectos da função cognitiva, incluindo aprendizado e memória, tempo de reação e habilidades motoras finas.

Alguns esportes como a patinação, futebol, basquetebol, voleibol, rugby, futebol americano, luta livre e ginástica parecem se beneficiar do efeito estimulante da nicotina.

Um estudo encontrou uma melhoria de 17% no tempo até a exaustão após a aplicação de nicotina em comparação com o placebo, isso sem afetar os parâmetros cardiovasculares e respiratórios ou o metabolismo de substrato energético. Nesse sentido, a nicotina parece exercer efeitos semelhantes à cafeína, atrasando o desenvolvimento da fadiga central.

Embora a nicotina possa ter um potencial ergogênico, também é altamente viciante, tanto quanto a heroína e a cocaína. Também é importante mencionar que a vasoconstrição mediada pela nicotina poderia limitar o desempenho do exercício em um ambiente quente.

A nicotina não está na lista de substâncias proibidas da WADA, no entando a entidade está monitorando a fim de detectar padrões de uso indevido no esporte, e no futuro ela poderá ser classificada como doping.

ÁLCOOL
O álcool sempre foi uma das drogas mais consumidas e abusadas na história humana. Atualmente as diretrizes da American Heart Association recomendam um consumo moderado de álcool, pois tem sido associado a um menor risco de problemas cardiovasculares.

O uso de álcool é bastante difundido entre os atletas, sendo que 88% dos atletas americanos universitários relataram o uso de álcool. Também é digno de nota que muitos atletas consomem álcool antes dos eventos esportivos. No entanto, é importante ressaltar que evidências científicas sugerem que o consumo de álcool tem efeitos prejudiciais sobre o desempenho do exercício.

O abuso crônico do álcool tem efeitos prejudiciais significativos nos músculos esqueléticos e cardíaco. Alguns autores sugerem que o treinamento resulta em uma elevação de antioxidantes cardíacos que, por sua vez, podem reduzir os efeitos do consumo crônico de álcool.

Um estudo que examinou os efeitos agudos do álcool na contratilidade do ventrículo esquerdo descobriu que o álcool teve um significante efeito depressivo sobre o miocardio.

Alguns estudos tem demonstrado também que o consumo de álcool diminui a utilização de glicose e aminoácidos, o que pode ter efeitos adversos sobre o fornecimento de energia ao músculo durante o exercício. O consumo de etanol induz à hipoglicemia e diminui a quantidade de glicose no plasma, diminuindo a gliconeogênese hepática. Além disso, o consumo de etanol demonstrou piorar os determinantes do músculo esquelético de desempenho, como a densidade capilar muscular (que está relacioanada à capacidade oxidativa do músculo) e área de secção transversa.

O álcool também pode levar, no pós-exercício, a significativas perturbações nos níveis dos fatores de coagulação. Esses fatores, por sua vez, estão implicados na patogênese da aterosclerose em estudos prospectivos.

O consumo de álcool após o evento esportivo é comumente observado e pode estar associado a distúrbios na agregação plaquetária. Um estudo demonstrou que a ingestão de álcool após o exercício foi associado a um aumento acentuado na contagem de plaquetas após 1 hora do exercício. Assim, parece que a ingestão de moderado à alta de álcool está associada à uma recuperação mais tardia.

O consumo agudo de álcool está associado à deterioração das habilidades psicomotoras. Isso pode ser expresso por uma diferença significativa que existe em taxas de lesões entre consumidores e não consumidores em populações de atletas. Atletas que consomem álcool pelo menos uma vez por semana tem quase um risco duas vezes maior de lesões em comparação com não consumidores.

O álcool também pode interferir com a capacidade do organismo de se recuperar de uma lesão. Um estudo examinou que os efeitos de 1 g / kg de peso corporal de álcool atrapalhou na recuperação da lesão muscular excêntrica induzida pelo exercício. O consumo de álcool foi associado significativamente à maiores diminuições na produção de torque (40-44%) em 36 horas de recuperação. Os autores concluíram que o consumo de uma quantidade moderada de álcool após o exercício aumentou a perda de força muscular.

Finalmente, há algumas evidências que sugerem que o consumo de álcool pode resultar em um equilíbrio energético positivo e um estado potencialmente obesogênico. Parece que o álcool pode ter um efeito poupador de gordura semelhante ao dos carboidratos e isso pode causar ganho de gordura.

Acerca do desempenho esportivo, o álcool demonstrou ter efeitos ergolíticos significativos em distâncias curtas e médias para corredores. Os efeitos adversos foram mais proeminentes em eventos mais dependentes da capacidade aeróbica (ou seja, 800 m e 1500 m). No entanto, não houve adversidade observada na corrida de 100m.

Um estudo demonstrou uma deficiência significativa no desempenho em 60 minutos em corrida contra-relógio na esteira, após a ingestão de álcool. A freqüência cardíaca e VO2 foram significativamente elevados em indivíduos após a ingestão do álcool e apenas 1 de 4 atletas conseguiu completar a corrida. Isso pode ser devido, em parte, à significativa hipoglicemia que os indivíduos experimentaram. Em outro estudo, o consumo de álcool 24 horas antes do exercício também demonstrou reduzir o desempenho aeróbio em 11%.

O álcool parece interferir também na síntese proteica, a maioria provavelmente por meio da supressão da via mTOR, que é crítica para facilitar a reparação e hipertrofia seguida do treinamento de força.

TETRAHIDROCANABINOL
A Cannabis, com mais de 400 compostos diferentes, distribuídos por 18 grupos químicos, incluindo a substância mais ativa Δ9-THC foi detectada em diferentes espécies de plantas da cannabis.

Os efeitos ergogênicos da maconha são questionáveis, assim como seu efeito de melhoria de desempenho:
- Um dos primeiros estudos para avaliar os efeitos da maconha no desempenho do exercício viram que a frequência cardíaca em repouso e a pressão arterial sistólica e diastólica foram significativamente elevado após o consumo de maconha comparado tanto com o controle quanto com o placebo.
- Outro estudo testou sujeitos 10 minutos depois de fumar um cigarro de maconha de 7 mg / kg de peso corporal e observou uma pequena, mas significativa, diminuição no tempo até a exaustão na bicicleta ergométrica.
- Outro estudo viu que o consumo deste antes do exercício aumentou a frequência cardíaca e a pressão em repouso e durante o exercício, assim como na recuperação.
- Em outro estudo, quando os indivíduos consumiram de forma aguda o THC, houve déficits significativos no desempenho geral, tempo de reação e no desempenho psicomotor até 5 horas pós-consumo.

É concebível que a cannabis possa reduzir os sentimentos de estresse pré-competição e ansiedade como resultado do efeito eufórico que pode produzir.

Além disso, como a cannabis diminui o estado de alerta e relaxa/seda o usuário, o uso pode levar a efeitos de relaxamento, bem-estar e melhoria da qualidade do sono. Por exemplo, foi relatado em um estudo que o relaxamento, prazer e o sono melhorados foram os principais motivos para se usar a cannabis, com a justificativa de que o sono adequado antes da competição possa levar a um desempenho ótimo.

O consumo de cannabis prejudica a performance devido principalmente ao aumento da frequência cardáiaca, pressão arterial, declínio do débito cardíaco e redução da atividade psicomotora (efeito sedativo que promove tempos de reação mais lentos). No geral a cannabis não tem efeito ergogênico no esporte e sua inclusão na lista de doping é devido a sua condição de droga ilícita.

CONCLUSÃO
De todas as drogas aqui discutidas, apenas a cafeína tem suficiente evidência para ser considerada um agente ergogênico. A cannabis e o álcool são ergolíticos para o desempenho nos esportes. A nicotina, que tem é tão viciante quanto heroína e cocaína, precisa de confirmação com mais pesquisas sobre seu efeito ergogênico. Além disso, é importante que os consumidores entendam os potenciais efeitos colaterais dessas drogas, além dos efeitos negativos potencializados das combinações de múltiplas drogas.

Artigo analisado pelo estagiário Igor Pereira (2º semestre/2017)

The effects of caffeine, nicotine, ethanol, and tetrahydrocannabinol on exercise performance -  Nutrition & Metabolism, 2013










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